Flavia Rayana é o nome da professora primária que nasceu no bairro de Tancredo Neves e se formou em pedagogia, pela UNEB, em 2016. Hoje, essa é apenas uma antiga skin da moça que trabalhava na educação formal de crianças do quarto ano, em uma escola no Doron, quando – depois de uma decepção amorosa – passou a escrever literatura erótica. Há dois anos, a recém-assumida autora não frequenta mais as salas de aula. Agora, criar tramas e personagens que acendem desejos femininos é missão, sustento e poder que deixou de ser secreto aos pouquinhos.

 

O @autora.raypereira tem, hoje, 17,3 mil seguidores. Lá você encontra fotos da escritora, depoimentos sobre os livros e toda aquela exposição normal das redes. Mas nem sempre foi assim. Criar o perfil no Instagram – e o codinome – foi estratégia para lidar, ao mesmo tempo, com duas personalidades incompatíveis. De um lado, a escritora com conteúdo adulto, sexo explícito, misteriosa e sem fotos nas redes sociais. Do outro, a professora fofa e doce de crianças na terceira infância. Para girar os dois pratos ao mesmo tempo, Ray precisou dosar, com precisão, a crescente exposição da autora e a preservação da “pró”. Cada uma em seu quadrado, até que a escritora criasse asas.

Desejada

A vida dupla durou até 2022, quando a venda dos 14 e-books e 5 livros físicos começou a pagar as contas. Veio o desligamento da escola onde ensinava, mas a vocação para educar seguiu com Ray. Diversidade, combate à pedofilia, feminismo, questões étnicas, questionamento de preconceitos… tudo isso está nas histórias, permeando seduções, encontros e desejos quentíssimos. A ex-professora escreve para mulheres negras, principalmente. Resgate pessoal de quem nunca havia visto seu próprio tipo físico no lugar da “mulher mais linda”, “mulher desejada”. Além disso, traz, em personagens, características que são comuns na vida real, mas raramente aparecem nas histórias do gênero. Cadeirantes e pessoas com anemia falciforme, por exemplo, estão ali “pra jogo” e sedução, exatamente como são.

De jeito delas

Muito além do clichê que diz “homens são mais visuais” – e nos levaria a concluir que erotismo por escrito “pegaria” mais as mulheres” – Ray conta de um jeito de escrever especialmente para o feminino. Não, não se trata de romantismo. Há as transas casuais, a liberdade e zero caretice nos livros, mas as coisas precisam fazer sentido. Elementar que a costura seja um leque de sentimentos, todos ali descritos, como carícias.

Ray combate preconceitos na ficção, mas sofre alguns na vida real. O primeiro deles vem de homens que assediam fortemente escritoras de literatura hot. Algumas figuras já são bem conhecidas no meio, têm seus perfis printados e expostos nos grupos. Assim, as autoras já ficam avisadas e podem se proteger de abordagens rudes e nudes não solicitados, por exemplo.

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