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Jovem fez desabafo em rede social
Jovem fez desabafo em rede social

Um estudante universitário denunciou ter sido estuprado e torturado em Uberaba, na região do Triângulo Mineiro. Em relato feito em uma rede social, a vítima contou que foi agredida com pedaços de madeira, pedras e arame farpado. Além disso, o estuprador teria parabenizado ele por ter sido abusado no lugar de uma mulher que, possivelmente, seria morta: “Parabéns, você salvou uma mulher hoje”.

No depoimento, o rapaz contou que foi abordado em uma rua vazia, por um homem que estava armado em um carro. Ele foi obrigado a entrar no veículo e, após dar voltas na região, o suspeito entrou com a vítima em uma área de mata fechada. Durante o diálogo, o suspeito chegou a dizer que queria uma menina, mas como não encontrou, a vítima seria o universitário. “Ele queria uma menina que provavelmente ia matar depois”, desabafa.

Após ter sido amordaçado e amarrado, o jovem foi deixado em uma estrada, descalço e ferimentos por todo o corpo. Ele contou, ainda, que caminhou por, aproximadamente, 1 hora e meia, passou por diversas pessoas, mas não recebeu ajuda de ninguém, até que um motoqueiro resolveu parar e chamar a polícia.

Um boletim de ocorrência foi gerado na PM (Polícia Militar). Por se tratar de um caso de estupro de homem, a Polícia Civil precisa da formalização da denúncia por parte da vítima para iniciar as investigações. Segundo a assessoria da corporação, a delegacia da região entrou em contato com a vítima após ser informada sobre o caso e aguarda a representação.

Veja o desabafo na íntegra:

Eu nunca imaginei escrever um texto como esse. Nunca imaginei que algo que eu luto contra fosse me fazer de vítima um dia. Logo eu, aquele que adora conscientizar os alunos sobre Direitos Humanos, Sexualidade e afins.

Na manhã desse último domingo, durante minha caminhada matinal, eu, Mateus, homem cis, 23 anos, fui vítima de um estupro. Não foi sequestro, não foi assalto e mesmo que pareça, não foi homofobia. Foi estupro. Eu não daria conta de reproduzir aqui o meu depoimento, e tampouco sei se algum dia darei. Em resumo, um sujeito para de carro do meu lado, aponta uma arma na minha cara e me faz escolher entre entrar no veículo ou levar um tiro ali mesmo. E não, não tinha ninguém na rua, e também não, não tinha como correr. Ele roda um tempo, entra na mata, e o ato com paus, pedras e arame farpado começa. Caso eu quisesse gritar, a arma na minha boca não deixaria. Até o fim vocês conseguem imaginar o que ele fez com esse material em mim. Não foi sexo, foi tortura. Mas como eu saí vivo? Segundo o cidadão, ele queria uma menina que provavelmente ia matar depois, já que encontrou só um garoto, esse ia salvar a vida dela. ‘’Parabéns, você salvou uma mulher hoje’’ disse ele depois de me amordaçar, amarrar e mandar correr descalço no asfalto quente antes que ele voltasse com outra ideia. O mal do ser humano não termina aí. Durante esse percurso (de quase 1h30min) encontrei mais de 20 pessoas e todas me negaram ajuda. Acharam que eu era drogado, assaltante… tudo bem, eu entendo, mas não custava chamar a Polícia que era a única coisa que eu conseguia gritar. Eu estava sozinho. Com medo. Por fim, um motoqueiro me faz esse grande favor e depois de meia hora chega a bendita polícia. Mas não se enganem, nem os policiais e nem a equipe médica tava preparada pra um caso desses. ‘’Mas você conhecia o agressor?’’, ‘’Por que você não correu?’’, ‘’Ele não titubeou nenhum momento pra você se aproveitar?‘’ e ‘’O indivíduo alega’’ foram as melhores pérolas que ouvi. Como sempre a culpa é da vítima.

Sempre achei brega as pessoas que usam o Facebook como diário. Porém, numa sociedade tão cretina como a nossa é importante reafirmar que estupro existe e não é mimimi. Existe, e homens – gays, héteros, bi – não são imunes. Acreditem, eu escrevo esse texto com muita dor, relutância, vergonha e absolutamente nenhum orgulho. Debati comigo mesmo várias vezes se isso realmente ia servir de alguma coisa e pode ser que eu me arrependa.

Eu só queria terminar minha graduação que já ta no finzinho. Só queria curtir as festas com meus amigos que tão se formando. Só queria passear com meu cachorro todo dia de manhã. Só queria paz de espírito e estabilidade emocional. Mas eu juro pra vocês que um evento desse porte faz a vida de qualquer um perder o sentido. Faz a gente se perguntar o porquê disso tudo. Quem sou eu agora?
Os procedimentos médicos e jurídicos estão sendo feitos. Não, eu não to bem. Me sinto humilhado, envergonhado, assustado. Cada lembrança é um pesadelo. Eu olho pro meu corpo agora e só penso que cada corte, cada ferimento e cada dor, vão se transformar em força, em esperança, em renascimento. E isso graças a minha família que tem sido incrível – todos eles – e aos amigos.

Se você chegou até aqui e ainda não ta acreditando, eu te reafirmo. Isso é sério e a minha ficha também não caiu. No mais, a minha vida não vai parar por isso. O baile seguirá.

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