Quando tentou, por meio da Justiça, cassar o mandato da vereadora Débora Régis (PDT) e torná-la inelegível, a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho (PT), lançou sobre si não apenas a imagem de que seria uma liderança autoritária, que não estava disposta a tolerar os adversários mais fortes respeitando as regras do jogo político. Produziu também a desconfiança de que enfrentava sérios problemas na gestão de seu grupo. As suspeitas parecem estar se confirmando agora, no momento em que todos os indícios são de que a gestora tem tido dificuldades para definir quem deve sucedê-la no município.

Pelos cálculos da base governista em Lauro, Moema teria à sua disposição, estimulados por ela mesma, pelo menos 10 nomes interessados em disputar a sucessão municipal. Mas, faltando sete meses para as eleições, a prefeita não consegue avançar na definição do candidato que deverá representar seu time em outubro. Como a maioria deles se encontra na própria equipe, na condição de secretários e auxiliares, não é difícil imaginar a luta fratricidada que a indecisão de Moema tem provocado no governo, com péssima repercussão sobre a administração e desgastes para a prefeita.

 

Em situações normais, já não são pequenas as disputas por espaço envolvendo aqueles que orbitam em torno de quem está no poder. Quando o pano de fundo é uma disputa eleitoral que envolve algo do porte de uma Prefeitura, no entanto, golpes e boicotes entre colegas viram uma rotina capaz de comprometer o andamento de qualquer governo, se a liderança fraquejar na tomada de decisões relativas à sobrevivência do grupo. Incompreendida, dada a experiência política da prefeita, a hesitação de Moema passou a ser uma fonte de preocupação para a articulação política do governo Jerônimo Rodrigues (PT).

Afinal, trata-se de um município importante da Região Metropolitana, considerado estratégico para a sucessão estadual de 2026, quando o petista vai tentar a reeleição. Além disso, em praticamente todas as cidades de relevância similar ou maior disputadas ou governadas pelo PT ou sob o comando de algum dos partidos da base governista os candidatos já foram definidos e até lançados. Um dos exemplos mais vistosos, sem dúvida, seria o de Camaçari, cidade maior do que Lauro e ainda mais importante para o grupo governista, onde a disputa pela Prefeitura, hoje com aliados de ACM Neto (União Brasil), promete ser dura.

Lá, o ex-prefeito e secretário estadual de Relações Institucionais, Luiz Caetano, já teve lançada sua pré-candidatura e aguarda apenas o momento para se desincompatibiliar e cair na campanha, sabedor de que não pode vacilar frente ao grupo do prefeito Elinaldo Araújo (União Brasil). Podem alegar que em Camaçari a situação é diferente porque Caetano é o próprio candidato da oposição. Mas não é o caso de inúmeras outras cidades em que as forças governistas estão avançando. Não espanta que se dissemine em Lauro que o plano de Moema é perder agora para tentar voltar daqui a quatro anos, repetindo script que já se viu na cidade.

*Artigo do editor Raul Monteiro publicado hoje no jornal Tribuna da Bahia.

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